“Desculpem a nossa falha” é o bordão da Globo quando do alto de sua perfeição escorrega em alguma coisa e dá chance para todos os que também o fazem de usar a mesma tática. Erro de imprensa que não é imprensa no seu sentido estrito, mas imprensa falada. As falhas da imprensa, digamos falada, voam e se ninguém as gravou, são esquecidas. Mas sempre há um perigo de o concorrente gravar e explorar o erro em seu benefício (esse negócio de gravação é muito comprometedor hoje em dia, tudo é registrado, os celulares são indiscretos e todos usam). Veja o prezado leitor em que barafunda nos metemos com essas invenções do diabo.
Consta que o primeiro erro de imprensa quando imprensa ainda não era e só o seria milênio e meio depois com Guttemberg, ocorreu com a gravação (no sentido figurado, claro) das palavras de Cristo com a célebre ameaça: “é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que o rico entrar no reino dos céus”. Em razão disso, muitosnabados bilionários, mesmo os que ingressaram recentemente nesse rol, têm se esforçado debalde em criar condições e até vaselinando camelos, para que estes consigam a proeza de evitar-lhes ingressar em outra lista, a dos danados do inferno. O erro teria se dado, segundo o que li há muito tempo atrás e se não foi assim, estou vendendo pelo preço que comprei, quando da transcrição das passagens do Evangelho para o latim e aí, o tradutor (“tradutor”) se fez traidor (“Traditor”). Ao que parece e o erro permanece até hoje, ocorreu na leitura da grafia do objeto que deveria entrar no fundo da tal agulha. Não é possível que Jesus tivesse usado uma imagem absurda, pois, o que é que um camelo tem que ver com corda, a não ser aquela a que está amarrado? Segundo o que li, talvez, o tradutor tenha confundido “camelus” (camelo,um animal que cospe em quem antipatiza) com “cammilum” (corda, um dos elementos de funcionamento da catapulta). Aí, reabilitaremos o Mestre, que, como é óbvio, não dizia tolices: “é mais fácil uma corda passar pelo fundo da agulha do que o rico entrar no reino dos céus”, isso sim, seria lógico.
E através dos séculos, com a imprensa funcionando por meio de tipos de madeira ou de chumbo fabricados especialmente para a composição das matérias que se destinavam ao leitor, trabalhando o operário gráfico com as pinças e com os dedos (muitos adquiriam câncer em virtude das substâncias liberadas pelo chumbo que se introduziam em seu organismo), a cultura foi disseminada. Não se podia evitar a sucessão de erros, muitas vezes causadas pelo cansaço do trabalhador e distração do revisor. Lendários equívocos foram cometidos, quem sabe alguns propositais. Veio depois o linotipo com seus revolucionários recursos.Estudantes, vimo-lo, extasiados, na indústria gráfica dos Diários Associados na Rua Sete de Abril em São Paulo. Bastava datilografar e a maquina fundia e vomitava os chumbinhos com tudo composto e pronto para o prelo. Isso ficou para trás, mas não os erros de imprensa. Hoje, com o advento da informática, cada vez mais perfeita e rápida, não se justifica mais que se os pratiquem. Essas fantásticas máquinas chegam à perfeição de detectar os erros, para vergonha do redator, manobram a composição, destacam as matérias mais importantes e garantem na manhã seguinte daquilo que aconteceu na noite anterior, a entrega ao leitor da publicação esperada. Toda essa maravilha da modernidade tem colocado a pulga atrás da orelha dos editores. Muitos anos não passarão até que tenhamos todas as informações e trabalhos intelectuais trazidos por uma pequena tela á nossa frente. O que acontecerá com a imprensa propriamente dita? É claro que o mercado editorial reagirá. De que forma, não sabemos.
O espaço acabou. Acho que ainda tenho mais a dizer sobre o tema. Por ora, desculpem as minhas falhas.
Por Edmeu Carmesini