
Os juros altos no Brasil sempre foram explicados por argumentos que não resistem à comparação com os dados. Há quem diga que uma meta de inflação de 3% é irrealista para a estrutura econômica brasileira. Mas isso não explica tudo. Os EUA trabalham com meta de 2% e inflação efetiva próxima de 3%, com juros básicos de apenas 4%. A relação Dívida PIB está em 127%.
Quando analisamos a nossa própria história recente, fica evidente a incoerência. Entre 2003 e 2013, o Brasil manteve um superávit primário médio de 3,5% do PIB, inflação de 5,78%, dívida pública em torno de 60% a 70% do PIB e mesmo assim a taxa Selic ficava em 8,5% ao ano. Ou seja: juros altos mesmo com forte disciplina fiscal.
Hoje, vivemos o oposto: déficit primário de 0,5% do PIB, inflação ao redor de 4,5%, dívida de 84% do PIB e uma Selic de 15% ao ano, gerando um juro real escandaloso de 10,45%, um dos maiores do mundo.
A inconsistência salta aos olhos. Não é razoável supor que a economia brasileira precise de uma Selic tão elevada para manter estabilidade. Se a inflação está em 4,5%, uma taxa real de 6% já seria mais do que suficiente. Uma Selic de 10% não colocaria a inflação em risco e aliviaria a atividade produtiva.
A sensação é que sempre surge uma nova justificativa para preservar ganhos elevados aos rentistas, enquanto a economia real — produção, emprego e investimento — carrega o custo. O resultado é um sistema financeiro que se protege demais e um setor produtivo que paga a conta.
1. Tabela Comparativa — Brasil: Situação 2003–2013 vs Atual
| Indicador | 2003–2013 (Média da Década) | Situação Atual |
|---|---|---|
| Inflação (IPCA) | ≈ 5,78% ao ano | ≈ 4,5% ao ano |
| Meta de Inflação | 4,5% (centro) | 3% (centro) |
| Superávit/Déficit Primário | Superávit ≈ +3,5% do PIB | Déficit ≈ –0,5% do PIB |
| Juros Selic | ≈ 8,5% ao ano | ≈ 15% ao ano |
| Juro Real | Cerca de 2,5% a 3% | Cerca de 10,45% |
| Dívida Bruta / PIB | 60% a 70% | ≈ 84% |
| Contexto Fiscal | Contas públicas fortes e previsíveis | Contas públicas frágeis e em deterioração |
| Compatibilidade Juros x Fiscal | Juros altos demais, mesmo com superávit | Juros excessivos, mesmo com inflação baixa |

