
Impressiona a recorrência de irregularidades, abusos e má gestão envolvendo autoridades brasileiras. Talvez isso ainda venha da existência — cada vez mais pressionada — de alguma liberdade de imprensa. O problema é que, agora, o alvo parece claro: calar as redes sociais, constranger a oposição e intimidar os próprios cidadãos. Um clima de temor difuso se instala no ar.
Como conviver com os prejuízos crônicos de estatais anacrônicas, que consomem recursos públicos sem entregar eficiência? Como aceitar emendas parlamentares bilionárias sem transparência ou prestação de contas? É possível fechar os olhos para escândalos como o do Banco Master, que misturam fortunas privadas, reputações públicas e a proximidade perigosa entre empresários, políticos e autoridades?
Muitos acompanham. Poucos falam. A maioria silencia. Ainda assim, há um consenso subterrâneo: o país precisa de um freio de arrumação. O impasse é evidente — como resolver o problema quando aqueles que têm poder para corrigi-lo estão envolvidos nele, ou usam esse envolvimento como moeda de barganha?
A resposta não é simples. E uma coisa é certa: a ditadura não resolve. Ao contrário, agrava. A repressão apenas desloca o conflito, não o elimina. A saída possível continua sendo a pressão popular — nas ruas e também nos meios digitais. Pressão legítima, persistente, organizada. Exigir impedimentos, correções de rumo, mudanças reais. Protestar, sem destruir patrimônio público, sem cair na armadilha da desordem que só beneficia quem deseja o caos como justificativa para mais poder.
A história mostra que decisões duras costumam acompanhar momentos extremos. Na Segunda Guerra, escolhas cruéis foram feitas para desmontar o aparato industrial nazista. Aqui, evidentemente, o caminho não é a violência, mas a exposição. A combinação entre investigação séria e delação responsável continua sendo o instrumento mais eficaz para revelar os malfeitos entranhados no sistema.
Cabe, mais uma vez, à mídia cumprir seu papel: expor as chagas, iluminar as zonas de sombra, resistir às tentativas de silenciamento. As chagas serão expostas. Porque, apesar do cansaço e do desencanto, a maioria da sociedade não aceita corrupção, abuso de poder nem a normalização do ilícito.


