por Silvana Duarte
Avenida da Saudade- Parte 2- Continuação:
(…)Desde criança, é da natureza humana o desejo de ser herói, defender os mais fracos, mas, quando adulto, a maioria se esquece de seus sonhos, caem na rotina e considera o errado como certo. Alguns ainda se lembram da essência que ficou na infância, se arriscam pelos seus sonhos, pelas causas dos oprimidos e indefesos. Em contrapartida, outros, à tardinha, em algum momento da vida, caminharão pela Avenida da Saudade e se lembrarão de sonhos interrompidos. Anjos ao longe, tentarão sinalizar algum contato: “aqui, jaz poetas que não aprenderam a amar, e adultos calados e “esquecedores” de sua eterna criança”. Quem sabe da próxima vez o corte de uma árvore faça mais barulho acordando crianças adormecidas.
Muitos lerão o presente texto e o anterior e murmurarão: tudo isso por causa de uma árvore?
Fico pensando se somos evoluídos o suficiente para fazer reuniões cujo assunto seja dessa “natureza”, cortar ou não cortar uma árvore, enquanto isso, discutimos o corte em massa de árvores e a derrubada de edifícios antigos para a construção de lojas e estabelecimentos de fast food, realmente, são questões de valores e prioridades. Talvez nossa geração não se importe com nada que carregue consigo efeitos e resultados à longo prazo. A paineira, por exemplo pode simbolizar a essência da educação, planta-se a semente hoje a fim de colhê-la depois de 10 anos. É o tempo que tarda para que uma paineira se torne plena.
Prefiro então, pensar que a paineira causava perigo. Uma árvore sozinha em um imenso pasto, de certo fosse muito perigosa. Árvores em São Paulo, na capital, são muito perigosas, principalmente em espaços onde só predomina o cimento. A chuva, essa, já não é perigosa… o perigo está nas árvores!
O perigo sempre nos espreitará. Mas, árvores nos espreitam de que forma? A paineira estava lá vivendo, um quadro enraizado, era poesia ao vivo, em cores e gratuita aos nossos olhos.
Felizmente, a paineira da Avenida da Saudade, nos deixou frutos: foi musa inspiradora do diálogo a seguir. Uma bela oportunidade de você, caro e maravilhoso leitor, senti-la in post mortem e escolher qual personagem combina mais com você!
Pessimista: veja que ultraje!
Aquela paineira ao longe
Se fosse num baile, ela não entraria.
Afinal, estaria sem traje
Otimista: veja que paineira de beleza singela!
Ainda que em prado vasto
A maior sombra é a dela
Pessimista: mas que lugar feio para crescer
Como pode viver em entulhos
Deve-se contentar por ter verdes folhas
Eu, se pudesse a cortaria
Afinal, pobre dela, não teve escolhas!
Não compreendo tanta ousadia!
Por continuar de pé em pleno dia!
Otimista: ouça os pássaros que de lá vêm
Descansavam em seus galhos marcados por cicatrizes
Eles voam felizes
E dizem amém
Agradecendo, pois um lar eles têm!
Pessimista: só você mesmo para ver isso!
Deve ser um poeta
Deve estar em puro devaneio
Olhe, só vejo a luz do sol e um espectro de
uma árvore
Otimista: compreendo-te, tudo depende de
onde você veio
Pessimista: Também vejo a luz do sol acima dela
E é única coisa bela…
Otimista: também vejo essa luz!
Vejo-a inclusive na árvore
Pessimista: és um louco mesmo!
Otimista: veja! Ela está nas suas raízes
Carregadas de memórias e sofrimento
Está na seiva que escorre pelo seu tronco
Que gratuitamente alimenta as abelhas
A luz do sol está nas sombras de seus galhos
Que abraçam pardais e sabiás! E…
Pessimista: e blá blá… O que adianta
Tudo isso para não ter flores!?
Uma paineira sem flores!
Otimista: Você só vê as glorias
Não vê as dores
Veja mais de perto e verás suas poucas
E raras flores
Suas flores rosas e carregadas de memórias
Pobre de você, pessimista, porque vê somente o aparente
Tente se aproximar
Se colocar em meu lugar!
Quem sabe sob outra perspectiva
A paineira também te cative!