A inflação brasileira em 2025

A inflação atingiu o teto da meta em novembro: 4,5% ao ano. Foram dez meses consecutivos acima do limite, enquanto o governo tratava com desdém o centro da meta, fixado em 3%. Ao Banco Central restou o papel ingrato de conter a inflação pelo único instrumento disponível: estrangular o crédito.

O resultado é uma anomalia grave. O Brasil exibe hoje a segunda maior diferença do mundo entre inflação e taxa básica de juros: cerca de 10,5 pontos percentuais. Na ponta, o crédito produtivo simplesmente desaparece. Juros para capital de giro não ficam abaixo de 30% ao ano. No cartão de crédito, ultrapassam 400%.

As consequências já são mensuráveis. 57% das empresas estão inadimplentes, com contas em atraso. Destas, 70% pertencem ao setor de serviços, justamente o mais intensivo em emprego. A política monetária é um remédio de médio prazo: funciona por até dois anos. Insistir além disso não corrige distorções — destrói empresas e compromete o crédito das famílias.

Entramos, assim, em uma recessão silenciosa. 2026 começa fraco e tende a permanecer fraco. Mesmo com uma esperada queda de cerca de 4 pontos percentuais nos juros ao longo do ano, a reação da economia será limitada. O deslocamento da curva de juros leva ao menos seis meses para chegar à economia real. Não há ciclo digital. A economia ainda é feita de carne, osso e renda, não de algoritmos.

A inflação começa a ceder, mas não por mérito estrutural. O movimento decorre da desvalorização especulativa do dólar e do fluxo de capital externo atraído por juros artificialmente elevados. O dinheiro que entra não investe: arbitra. Vem para sugar o diferencial positivo.

O agronegócio ofereceu, entre junho e novembro, um breve alívio ao índice de preços, especialmente nos alimentos. Ainda assim, de janeiro a outubro, os preços de alimentos subiram 3%. Em cinco anos, a alta real da cesta básica foi de 57%, contra 39% do IPCA — uma diferença de 19 pontos percentuais que pesa diretamente sobre a renda das famílias.

2026 será tenso, de crescimento pífio. 2027 será a hora da verdade. O que se anuncia não é retomada, mas ressaca — com claros sinais de uma recessão mais profunda se nada mudar no eixo fiscal e na coordenação da política econômica.

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