Anistia esfriou. A redução de pena é a esperança

A anistia aos eventos de 8 de janeiro conseguiu a façanha de ser embaralhada com a condenação de um suposto grupo golpista — desses que dão golpe sem armas, sem bala, sem tanque, sem avião e, sobretudo, sem comando. Um golpe conceitual, etéreo, quase metafísico.

Os presos de 8 de janeiro cometeram, sim, crime de baderna. Quebraram, vandalizaram, depredaram. Nada trivial, mas também nada que a história do direito penal conheça como “tentativa de tomada do poder”. Ainda assim, como a Justiça de ocasião resolveu “reeducar” os envolvidos, nada mais pedagógico do que elevá-los à categoria de golpistas. Afinal, punição exemplar exige narrativa exemplar.

O enredo fica mais interessante quando se observa o elenco: militares acusados estavam na praia ou em casa, o secretário de Segurança do DF estava na Disney — Orlando, para ser mais preciso — e a liderança do suposto golpe permanece tão invisível quanto eficaz. Um golpe sem líder, sem quartel, sem plano, sem logística e sem execução. Um feito inédito, digno de estudo acadêmico.

Amanhã, o Senado vota a redução das penas. Espera-se que, ao menos ali, a sentença anômala seja trazida de volta ao mundo real. Mas não nos iludamos. Lula já promete reagir com veto, auxiliado pelo STF, numa harmonia institucional que dispensa sutilezas.

Se insistirem em empurrar o país para um beco sem saída jurídico e político, o episódio entrará para a história como mais um capítulo constrangedor da Nova República. A solução, ao que tudo indica, acabará vindo não do equilíbrio institucional, mas do velho e discreto instrumento do indulto — se a oposição vencer Lula e seus carrapichos.

Porque, no Brasil, quando o roteiro fica absurdo demais, o final costuma ser improvisado.


Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Pinterest
últimas no jornal o democrático
agenda regional

Próximos eventos