Carlos Nascimento e sua Versatilidade na Comunicação

Em uma entrevista exclusiva para O Democrático, o Jornalista Carlos Nascimento falou sobre sua carreira, aptidão para o agronegócio e a sua vida fora da televisão. E compartilhou sua profunda paixão pela rádio.

Por Ana Paula Toledo

Responsável por levar informação e entretenimento aos locais mais remotos do planeta, o Rádio no Brasil completou 101 anos no dia 07 de setembro. Foi nessa data, em 1992, que os brasileiros ouviram pela primeira vez uma transmissão de rádio. Em um século, o rádio resistiu à chegada e o advento das novas tecnologias, e continua presente na vida dos brasileiros.
Dois Córregos ingressou no mundo da radiodifusão em 1952. A Rádio Cultura foi inaugurada em 22 de junho do mesmo ano com o prefixo ZYR-54, fundada pelos Simonetti, da cidade de Bauru, uma família de profissionais do rádio. Durante a trajetória a Rádio Cultura revelou grandes comunicadores. Carlos Nascimento, também Jornalista, conhecido por cobrir fatos que marcaram a história do Brasil e do mundo, e também por apresentar grandes jornais na TV.
Confesso que fiquei surpresa quando solicitei a entrevista. Sua atenção, solicitude e presteza em me atender foram ímpares e reforçaram o que já havia escutado sobre sua simpatia e humildade, sem mencionar o talento.
Carlos Alberto Suriano do Nascimento, 68 anos, jornalista, armador e agropecuarista, nasceu na Maternidade do Jaú, em 05 de dezembro de 1954. Seus pais moravam em Dois Córregos e foi lá que viveu até janeiro de 1974, quando mudou-se para São Paulo.

Como foi a sua infância e adolescência?

Fiz parte da penúltima geração dos baby boomers, os nascidos depois da Segunda Guerra. Vivi em Dois Córregos de 1954 a 1973. Morei na Barra Funda, perto do jardim e depois na avenida 29 de Maio, não longe da Prefeitura.
Estudei no Grupo Escolar Francisco Simões e no Instituto de Educação José Alves Mira, em Dois Córregos, e na Faculdade de Jornalismo Casper Líbero, em São Paulo. Fiz um semestre na Faculdade de Direito Mackenzine, mas não conclui o curso.
Tinha uma bicicleta e pedalei muito pela cidade, especialmente pela periferia. Joguei futebol de salão na Sede Mariana e basquete na Quadra Municipal. Frequentei a Piscina, o Aero e o Cine São Paulo. Viajei muito de trem, toquei na fanfarra do IEEJAM, brinquei no carnaval e fiz parte do TLC na comunidade católica. Acompanhei as procissões e nelas encontrei a italianidade. Ia ao rancho e gostava de caçar e pescar. Um ano antes de me mudar para São Paulo fiz o TG 02-224 e fui o primeiro da turma. Ou seja, vivi como todos os jovens dois-correguenses da época.

Quando começou a interessar-se pelo Jornalismo?

Entrei na ZYR 54 como sonoplasta em 1968, aos 13 anos. Na eleição municipal daquele ano me puseram para recolher os mapas de votação. Em 1969 fomos censurados quando a ditadura sequestrou seis cidadãos dois-correguenses, inclusive o prefeito. Aos 15 anos fazia reportagens e me demiti para não cobrir a campanha eleitoral de 1970 com políticos de um lado só. Aos 16 fui chamado à Polícia porque o delegado não gostou de uma reportagem. Logo depois passei a chefiar o Democrático. Fiquei seis meses sem receber salário porque critiquei o Noca. Isso tudo já era Jornalismo.

Quais os maiores desafios que encontrou?

Quando comecei, na sonoplastia, acertar com a agulha nas faixas dos Long plays e compactos simples e duplos e nos jingles de propaganda em 78 rpm !

Como era fazer Rádio na época?

A ZYR 54 foi fundada pelos Simonetti, de Bauru, uma família de profissionais do rádio. Em seus primeiros anos a emissora manteve esse padrão e formou locutores que fizeram escola como Clineu Alves de Lima, Geraldo Pinhanelli, Antenor Zago, Laerte Masiero, Márcio Correia Tablas, Gileno Graco Antunes e outros. Eu cheguei dezesseis anos depois, quando Clineu era o diretor e apaixonado pelo rádio. Aprendi muito com ele. Amava Dois Córregos. Acho uma injustiça não haver uma única rua, praça ou logradouro público com o nome do Clineu. Merece um busto pelo menos.

E como entrou para a Televisão?

Quando cheguei a São Paulo o seu Biga conseguiu junto ao Alcides Franciscato, ex-prefeito de Bauru e candidato a deputado federal que eu trabalhasse em um jornal dele, o Super News. Nesse jornal conheci Olavo Marcus, secretário de Redação da Rádio Nacional que pertencia ao Sistema Globo de Rádio. Olavo contratou-me como repórter no aeroporto de Congonhas e depois redator e locutor do noticiário O Globo no Ar.

Quando a Nacional se preparava para ser a Rádio Globo tornei-me repórter e um de meus chefes era Dante Matiussi. Esse jornalista foi chamado para comandar a reportagem da TV Globo e me levou junto. Em agosto de 1977 estreei no Bom dia São Paulo e fiquei por dez anos na primeira fase.

Qual trabalho permitiu que se tornasse mais conhecido do público?

Eu fiz desde reportagens policiais como o tiroteio de Jacareí e uma entrevista com o mafioso Tommaso Buschetta até coberturas internacionais como o 11 de Setembro. Estive no Colégio Eleitoral, constituinte, agonia e morte de Tancredo Neves, três Copas do Mundo, Olimpíada de Atenas, planos econômicos, impeachment de Collor ao vivo, primeira visita do Papa, redemocratização da América do Sul e mais uma fila de coberturas jornalísticas. Difícil dizer a mais importante.

O senhor é considerado um dos melhores Âncoras da Televisão Brasileira. Quais fatores acredita que contribuíram para isso?

Cumpri o meu papel. Nunca tive ideologia, preferências pessoais, políticas ou partidárias. Sempre considerei o leitor, ouvinte ou telespectador a figura mais importante na minha profissão. Nunca aceitei – e não dei – nenhuma notícia forçada, obrigado ou contrariado. Como jamais favoreci conscientemente quem quer que fosse. Apenas isso.

Qual cobertura mais significativa que fez?

Nunca me preocupei em fazer essa avaliação. Os meus dias como jornalista começaram e terminaram com o mesmo esforço e dedicação em cumprir a minha pauta com eficiência e honestidade.

Quem inspirou você na sua trajetória?

O meu País, seu povo, suas carências, méritos, erros e acertos.

Quais os prêmios mais importantes que já conquistou?

Lembrando que no Jornalismo não se faz nada sozinho, como repórter recebi duas vezes o Prêmio Vladimir Herzog, em 1980 e 1981. Como editor-chefe e apresentador de telejornais recebi três prêmios APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte): Melhor Telejornal pelo Jornal da Cultura em 1988; Melhor Telejornal pelo Jornal da Record em 1989e Melhor Apresentador pelo SP.

Já, na Globo, em 1993. Recebi também por duas vezes, em 2003 no Jornal Hoje da Globo e em 2005 no Jornal da Band, o Prêmio Comunique-se de Melhor Âncora da televisão brasileira. No SBT, nos telejornais SBT Brasil e Jornal do SBT recebi quatro vezes o Troféu Imprensa, duas como Melhor Apresentador e duas pelo Melhor Telejornal. Dos meus colegas de profissão recebi um prêmio em 2014 ao ser incluído entre os cinquenta melhores jornalistas do Brasil.

Como lidou com a descoberta e enfrentamento de uma doença grave?

Em momentos assim só com fé em Deus, o apoio da minha família e dos colegas e amigos, a confiança nos médicos, enfermeiros e funcionários dos hospitais, no meu caso o Sírio Libanês, o Vila Nova Star, o São Luiz e o Amaral Carvalho. E o amor de milhões de brasileiros que rezaram por mim.

Como surgiu a ideia de investir no turismo fluvial?

Não se trata de uma ideia, mas de um projeto. A navegação fluvial, tanto de turismo quanto de carga tem muito a avançar no Brasil.

Estamos comemorando 101 anos do Rádio no Brasil. Qual a importância desse Veículo de Comunicação?

O segredo do sucesso do rádio, da TV, do cinema, do Jornalismo, da fotografia e das recentes mídias digitais são o talento, o profissionalismo, a criatividade e as boas intenções de quem os faz e não o título que carregam.

Apesar das novas mídias, o Rádio continua sendo um dos principais veículos de informação dos brasileiros. Você concorda?

Se os que fazem o rádio optarem pelo talento, a competência, a cultura e a inteligência, sim.

Quais são seus planos para o futuro?

Plano? Conseguir sempre um tempinho para tomar um sorvete e bater um papo com o Marcheti.

Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Pinterest
últimas no jornal o democrático
agenda regional

Próximos eventos