A Polícia Civil de Dois Córregos registrou um aumento significativo no número de casos de violência doméstica na cidade. O cenário não é isolado. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada dois minutos, uma mulher é vítima de violência doméstica no Brasil. Por dia, 180 são vítimas de estupro. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que o índice de violência doméstica com vítimas femininas é três vezes maior que o registrado com homens.
De acordo com o delegado da Polícia Civil de Dois Córregos, Márcio Moretto, o que houve não foi um aumento no número de casos, mas de registros de ocorrências. “O número é bastante elevado, mas boa parte desse aumento se deu pelos registros estarem sendo feitos. Havia um represamento muito grande desses casos e eles não chegavam ao conhecimento da polícia. As mulheres tinham receio de registrar essas ocorrências e hoje elas não têm mais”, afirma.
Mas, segundo o Ipea, muitas mulheres ainda não fazem denúncias por medo de retaliação ou impunidade. De acordo com o levantamento, apenas 22,1% das vítimas femininas recorrem à polícia após a agressão.
“As mulheres também passaram a fazer uso das medidas protetivas e isso provocou um aumento desse tipo de registro. Esses crimes já vinham acontecendo. Não é que homem hoje bata mais na mulher do que antes, que tenha mais briga dentro de casa. O fato é que isso não era registrado”, destaca Moretto.
Entre os principais motivos que levavam a vítima a não registrar a agressão junto às autoridades policiais, estava o desconhecimento. “Hoje a mulher sabe o que tem a favor dela. Isso está fartamente divulgado. A vítima sabe que tem direito a pedir a medida protetiva, sabe que não precisa conviver com o agressor, e isso tem feito crescer o número de registros”.
Além disso, o delegado afirma que muitos casos tratam-se de falsa comunicação de crime. “Muita gente, por má fé, acaba registando a ocorrência. Às vezes teve uma briga por conta de guarda de filhos e a mulher alega, sem prova, que foi ameaçada e não foi. A gente não sabe o que aconteceu e instaura o procedimento. Têm casos que beiram o absurdo. Já tivemos caso aqui de uma mulher que registrou queixa de violência doméstica praticada pelo marido e ele estava preso. Inventou um crime, disse que ele esteve na casa dela e era mentira”, conta. O delegado esclarece que todos os casos de violência doméstica são investigados. “E quando há agressão física, a gente instaura o inquérito e encaminha ao poder judiciário”, diz.
Ainda segundo o Ipea, 20,8% das mulheres vítimas de violência doméstica não procuraram a polícia após a última agressão. “A gente incentiva que procurem as autoridades policiais. Tanto que nós montamos um setor exclusivo na nossa delegacia com um profissional designado exclusivamente para o atendimento à mulher e para dar encaminhamento às medidas”, ressalta.
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