O homem desafortunado
Por Silvana Duarte
Voltando da escola, em uma Kombi estava ele, sentado no último banco, bem distante da porta, mas, ela perdeu o freio, a porta se abriu. Fora o único a ser lançado ribanceira abaixo. Resultado: oito ossos quebrados.
Quando ele se apaixonou, verdadeiramente, por sua linda vizinha recém chegada, decidiu se declarar! Como era primeiro de abril, ela então riu, rapidamente entrou, batendo a porta. À noitinha, o seu irmão, ela beijou.
Quando resolveu focar nos estudos, se inscreveu para o vestibular, estudando dias e noites. No dia do exame, esquecera-se do documento de identidade, fora impedido de realizar a prova.
Quando conheceu a mulher da sua vida, logo quis noivar. No dia do seu casamento, lá no altar, chamou sua noiva por outro nome, o mesmo da vizinha, aquela, a da paixão adolescente -eram nomes muito similares-.
Quando resolveu jogar na Mega Sena, ganhou sozinho milhões, gritou, festejou, comprou carne, fez churrasco para o bairro todo.
Como era março, chovia muito, uma enchente logo ocorreu, ilhando o bairro. Sem internet e telefone, perdera o prazo de retirada da fortuna. Quando conseguiu sair, descobriu que o dinheiro fora doado para uma instituição de caridade. As pessoas o abraçavam, agradecendo-o por tamanha bondade.
A mesma corda que o retirara da enchente, era agora, a mesma pendurada no caibro de sua casa. Verificou a força da madeira. Pegou uma cadeira. Decidiu findar toda uma vida de azar.
Ladrões estavam ali perto, espreitando a tal fortuna não recebida, lá fora, policiais buscavam dois suspeitos que haviam pulado um muro. Como a janela estava aberta, um cabo da PM, astuto como era, avistara da rua a cena triste. Gritos foram dados. Um segurou e o outro cortou.
No hospital, já era tarde demais, ele não lograra sua meta, os primeiros socorros foram feitos com sucesso. Cézar logo despertou sob pranto por ter tanta sorte na vida, por ter nascido novamente. Três dias depois fora batizado, agora passou a se chamar Fausto, o afortunado.