Crônica da semana de 03/04/2024

Por Silvana Duarte
@silvanaduartepoeta

De louco todo mundo tem muito, ainda bem!

Diagnóstico: esquizofrenia, fase aguda decrescente, o prognóstico deve ser aguardado.” Li este trecho em um livro (de Scott Fitzgerald: Suave é a noite), onde há uma personagem, uma moça, inda em sua adolescência, é diagnosticada com esquizofrenia. Ao ler obra, o leitor vai percebendo que o ambiente colabora para que ela aflore e potencialize este distúrbio, tanto que o leitor percebe que a presença e o comportamento do pai podem ser causadores de boa parte da loucura. Sem dar muito spoilers aconselho ler a obra com muita paciência, pois a linguagem é do século passado, por isso é formal e um tanto rebuscada.
Hoje, sabemos que há mais conhecimento, tratamentos sobre a esquizofrenia, desconstruindo falácias acerca da doença. Afinal, atos de loucuras sempre foram alvos de preconceitos. Acredito que tudo que fere a integridade humana deve ser considerado ato de loucura e não ser normalizado ou romantizado, por outro lado, indago e reflito sobre o que é considerado loucura nos dias atuais, quem determina e de local ou posição se encontra para definir o que é ler louco ou não.
Gosto de pensar na frase: Vivemos em um mundo que só não é louco quem não tem esquizofrenia. Não sei quem a criou, penso que foi dita por filósofos entrevistados por expertos no Roda Viva, programa da TV Cultura, que trata de assuntos contingentes de nosso tempo.
A frase retrata brilhantemente o comportamento atual de muitas pessoas. Quem nunca foi chamado de louco que atire a primeira pedra ou quem não conhece alguém é tão presumido que acredita fielmente na própria sanidade, apontando assim, a loucura dos outro por considerar certas posturas fora dos padrões estipulados por ele mesmo ou pelo seu grupo social. Portanto, volto a indagar: quem estipula o que é loucura nos dias de hoje?
Pode existir um lugar no qual todos são considerados como normais e uma única pessoa apresentar ideias, comportamentos distintos do resto tachado como doido? Ela própria acreditaria nisso? Mesmo tendo suas faculdades mentais sana? Qualquer semelhança com a vida real é puramente coincidência se por acaso lhe parece familiar…
Prefiro acreditar que tal analogia lembra mais os contos fantásticos que tais achismos não passo de clichês “Aliciantes”:
“Mas eu não quero me encontrar com gente louca”, observou Alice.
” Você não pode evitar isso”, replicou o gato.
“Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco, você é louca”.
“Como você sabe que eu sou louca?” indagou Alice.
“Deve ser”, disse o gato, “Ou não estaria aqui”
Falar o que pensa, dizer a verdade nua e crua, expor uma injustiça perante todos, denunciar ou expor um estupro ou caso de pedofilia são atos de coragem e podem ser traduzidos por muitas pessoas como atos loucos. Alguém que resolve dançar enquanto todas as outras olham incrédulas, paradas feito estátua. Uma mulher que viaja para estudar ou trabalhar e deixa seus filhos com o pai, vó ou tia. Louco pode ser o que resolve mudar de profissão e por isso, pede a conta depois de anos. Louco é aquele que veste o que quiser, sem se importar-se com o que vão dizer…
As redes sociais vieram para escancarar ou para ocultar os verdadeiros loucos? O que dizer das pessoas ciumentas ao extremo que monitoram que seu parceiro segue ou por quem ele é seguido nas redes sociais? Temem ser trocadas apenas por um “adicionar amigo” ou um “seguir pessoas”. Que tipo de relacionamento existe cujo respeito é baseado pelo termômetro da rede social? Uma tela fria irreal (há filtros que escondem a verdadeira face) é capaz de causar um verdadeiro inferno na vida de outrem. Pode soar como loucura aquela foto de família típica de comercial de margarina, enquanto, na vida real, estão cada um em um cômodo da casa com seus celulares conectados, os filhos viciados no TIK TOK ou no Discord…Pelo menos na era do rádio, a família se reunia em volto dele para ouvi-lo…
É fácil sentar na janelinha, pegar o bonde andando apontando: “aquele lá é louco”. Se sou amigo de alguém assim, me arriscaria a dizer: “mas aquele lá é você mesmo, não se reconhece? Veja melhor, é um espelho, está refletindo você mesmo.
De todos os chamados loucos, mais da metade é do público feminino: louca de casar de novo, louca por não querer filho, louca de viajar sozinha, louca por ter outro filho, louca por fazer polidance e postar a foto…
A verdade é uma só, fazendo ou não fazendo você sempre será intitulado de louco. É como um policial quando multa: “ Por que não vai prender ladrão?”. Outro dia não multa: “Nossa, ele deixou passar sem multar? Deve ser corrupto”. Sabemos que nem Jesus agradou a todos. Então, prefiro fazer o que achar certo e o coração mandar, saborear lentamente e normalmente meus “atos de loucura”. Já dizia a canção: “ Dizem que sou louca
Por pensar assim Se sou muito louca Por eu ser feliz, mas louco é quem me diz! E não é feliz! (…).

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