
A cultura da macadâmia no Brasil é de alta rentabilidade em potencial, mas enfrenta desafios como elevados custos de implantação e operação, longo tempo até a produtividade efetiva, e sensibilidade a eventos climáticos extremos. Com investimentos em genética, mecanização e diversificação de cultivo, há grande oportunidade para crescimento, especialmente com o mercado interno ganhando força. As regiões paulista e capixaba lideram a produção, mas é preciso expandir áreas com inovação técnica e comercial para retomar o crescimento econômico do setor.O cultivo vem ganhando destaque no cenário agrícola nacional, apesar dos desafios, especialmente os climáticos. A produção brasileira, que já alcançou picos de 8.500 toneladas em 2019, sofreu uma queda acentuada de cerca de 30% em 2025, resultando em uma safra inferior a 4 mil toneladas. Essa redução é atribuída, principalmente, a condições climáticas adversas, como seca e calor excessivo durante o período de florada, que comprometeram a frutificação e a produtividade em todas as regiões produtoras. Pela primeira vez em 30 anos, cerca de 90% da produção foi destinada ao consumo interno, um cenário inédito, já que historicamente a maior parte da produção era voltada à exportação.Atualmente, o Brasil conta com cerca de 5 mil hectares cultivados com macadâmia, com uma concentração expressiva em São Paulo, especialmente no município de Dois Córregos, que responde por aproximadamente 50% da produção nacional. O Espírito Santo, com destaque para a região de São Mateus, contribui com cerca de 30%, enquanto Minas Gerais é responsável por aproximadamente 25%. O cultivo da macadâmia no País requer investimentos iniciais significativos, estimados em R$ 15 mil por hectare, e custos operacionais anuais que podem alcançar R$ 25 mil por hectare. Apesar disso, em safras favoráveis, a receita pode chegar a R$ 50 mil por hectare, com produtividades variando entre 3 e 5 mil quilos por hectare, superando a média mundial, que gira em torno de 2 a 2,5 toneladas por hectare.A macadâmia é uma cultura perene e de longo prazo: começa a produzir entre quatro e cinco anos após o plantio, atingindo seu pico produtivo de dez a doze anos. O preço da noz no mercado interno pode alcançar R$ 180 por quilo quando beneficiada, enquanto no comércio internacional gira em torno de US$ 3 por quilo. O alto valor de mercado torna a cultura atrativa, mas o retorno sobre o investimento é demorado, e a rentabilidade depende fortemente das condições climáticas e do manejo adequado.Para mitigar os riscos e ampliar o potencial econômico da macadâmia, produtores têm investido em práticas como o consórcio com outras culturas, especialmente o café, o que permite gerar receita nos primeiros anos do pomar, enquanto a macadâmia ainda não produz em escala comercial. Instituições de pesquisa como o Instituto Agronômico (IAC) e a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) têm desenvolvido cultivares mais adaptadas ao clima tropical brasileiro, com maior resistência e produtividade, além de orientar sobre práticas mais sustentáveis de cultivo.Embora o Brasil esteja entre os dez maiores produtores de macadâmia do mundo, sua participação ainda representa menos de 3% da produção global. No entanto, o mercado mundial está em franca expansão, com crescimento anual superior a 8%, tornando a macadâmia a oleaginosa de maior valorização atualmente. Esse crescimento do consumo mundial e o aumento recente do consumo interno brasileiro — impulsionado pela menor oferta para exportação — apontam para um cenário de potencial valorização e expansão da cultura no País. Ainda assim, para que isso se concretize, será necessário investir em tecnologia, planejamento de longo prazo, manejo climático e estratégias comerciais mais eficientes para inserir o Brasil de forma mais competitiva no mercado global da noz. |
Cristina Tordin (MTb 28..499/SP)
Embrapa Meio Ambiente