DOUTOR RESPONDE

Você já ouviu falar em dislexia? O transtorno relacionado à aprendizagem pode parecer não muito comum, mas é. Levantamentos apontam que há cerca de 700 milhões de pessoas disléxicas no mundo. Para falar sobre este assunto, o jornal “O Democrático” conversou com a fonoaudióloga Natália Fernanda Garro Monteiro Fávaro.

O Democrático: Há quantos anos trabalha como fonoaudióloga?
Natália Monteiro Fávaro: Há dez anos.
O Democrático: O que é dislexia?
Natália Monteiro Fávaro: A dislexia é um transtorno que vai afetar as habilidades básicas necessárias para desenvolver a linguagem e a escrita, que seria a parte da aprendizagem da criança para aprender a ler e a escrever. Isso dificulta bastante o processo de alfabetização das crianças.
O Democrático: O que ocorre na dislexia?
Natália Monteiro Fávaro: A dislexia tem as suas raízes nos sistemas cerebrais e são responsáveis pelo processo fonológico. Esse processo é uma das habilidades importantes para o desenvolvimento da leitura e da escrita na criança.
O Democrático: O que causa a dislexia?
Natália Monteiro Fávaro: Alguns estudos de imagens cerebrais demonstram que as crianças com dislexia geralmente têm uma ativação cerebral diferente das crianças sem dislexia. Inclusive, já se descobriu quais são as regiões cerebrais responsáveis por essas falhas e dificuldades na hora de ler e transpor o pensamento para o papel.
O Democrático: É considerado uma doença?
Natália Monteiro Fávaro: Não é uma doença, apesar de ter uma influência genética. Para o diagnóstico da dislexia é necessário um diagnóstico multidisciplinar, uma avaliação médica de neurologista ou neuropediatra, fonoaudióloga, psicóloga e psicopedagoga. A dislexia é um transtorno de aprendizagem que necessita de uma intervenção multidisciplinar desses profissionais.
O Democrático: Qual a prevalência da dislexia?
Natália Monteiro Fávaro: De acordo com a Associação Internacional da Dislexia, ela afeta 10% da população mundial. A associação ainda afirma que existam mais de 700 milhões de pessoas disléxicas no mundo. No Brasil, o número chega a 4%, o que representa em torno de 8 milhões de pessoas.
O Democrático: É possível diagnosticar a dislexia?
Natália Monteiro Fávaro: Sim, ela é diagnosticada quando a criança está no processo de alfabetização. O diagnóstico é fechado quando a criança teve dois anos ou mais de escolarização formal, tempo acadêmico suficiente para descartar a hipótese dela apenas não ter tido a oportunidade de ser alfabetizada. Também tem que ser descartadas outras possibilidades, como rebaixamento intelectual. Geralmente ela tem a parte intelectual compatível com a sua idade cronológica e não tem nenhuma alteração, mas tem dificuldade para aprender mesmo tendo uma oportunidade acadêmica adequada.
O Democrático: A dislexia é considerada um transtorno?
Natália Monteiro Fávaro: Sim, a dislexia é considerada um transtorno específico de aprendizagem, porque os seus sinais e sintomas afetam o desempenho acadêmico do aluno. Esse termo também significa que as dificuldades observadas nessas condições não podem ser justificadas por outras alterações neurológicas, sensoriais, motoras ou cognitivas, tendo a oportunidade acadêmica necessária.
O Democrático: Qua a prevalência dos transtornos de aprendizagem?
Natália Monteiro Fávaro: De acordo com o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais, a prevalência de transtornos de aprendizagem é de 5% a 15% em crianças em idade escolar em diferentes idiomas e culturas. Em adultos, essa prevalência ainda é desconhecida.
O Democrático: É possível fazer uma intervenção precoce na criança?
Natália Monteiro Fávaro: O tratamento da intervenção com as crianças com risco de dislexia consiste em atividades e jogos que ajudam a desenvolver e a fortalecer todas as habilidades da linguagem, como nós já citamos, juntamente com a consciência fonológica. Esse trabalho pode ser feito por terapeutas, fonoaudiólogas e psicopedagogas. Também é muito importante um trabalho em conjunto com os pais e os professores na escola para ter um bom resultado até o paciente conseguir superar as suas dificuldades quanto à leitura e escrita.

O Democrático: O tratamento é longo?
Natália Monteiro Fávaro: O paciente vai ter o acompanhamento fonoaudiológico e psicopedagógico durante toda a sua vida acadêmica enquanto estiver na alfabetização. Quando é diagnosticado precocemente, já na fase de início da alfabetização, é importante que tenha esse acompanhamento multidisciplinar.

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