Doutor Responde

A inclusão social está prevista em lei. Mas será que na prática ela é cumprida? A inclusão deve ser iniciada na fase escolar e o preparo de profissionais é fundamental para que o objetivo seja cumprido. A psicopedagoga e professora especialista em deficiência intelectual e inclusiva, e em tecnologias assistivas, Simone Segantin, fala sobre o assunto.
O Democrático: O que é a inclusão?
Simone Segantin: A inclusão foi colocada como um método para acolher pessoas com deficiência. A nomenclatura passou por diversos entraves, porque alguns historiadores e pesquisadores dizem que a gente não pode usar o termo “deficiente” e eles passaram a ser chamados de “portadores de necessidades especiais”. Então, a inclusão veio para atender essas pessoas, que passaram a frequentar a escola comum e não mais somente as APAEs, como era antigamente.
O Democrático: O mesmo vale para o mercado de trabalho?
Simone Segantin: Sim, também foram criadas leis para que os empresários contratassem portadores de necessidades especiais. Eles têm alguns critérios para seguir, inclusive, uma porcentagem das vagas deve ser destinada para empregar essas pessoas. Também têm descontos em impostos.
O Democrático: Essas pessoas ainda são vítimas de preconceitos?
Simone Segantin: Sim, infelizmente a inclusão não é 100% favorável do jeito que gostaríamos. No mercado de trabalho, por exemplo, as empresas procuram contratar os casos mais leves, menos graves. Muitas empresas não possuem um aparato psicopedagógico e psicopedagogos. A maioria trabalha somente com RH, com gestão de pessoas. Uma ou outra empresa que se destaca dentro do ISO, tem um profissional da área de psicologia ou psicopedagogia, para trabalhar a inclusão dentro da empresa.
O Democrático: Como tem sido a inclusão na sala de aula?
Simone Segantin: Na educação a gente vê salas de aula com números grandes de alunos e com apenas um aluno de inclusão. isso não é inclusão, isso é simplesmente você socializar a criança. Para fazer um trabalho corretíssimo na área de atuação dessa criança, precisaria de um aparato muito maior.
O Democrático: Quais tipos de deficiência o psicopedagoga atende?
Simone Segantin: Desde a área intelectual, com qualquer dificuldade de aprendizagem, seja disgrafia, discauculia, dislexia, até síndromes e transtornos. Quando a gente não consegue atender um caso específico, que a criança precisa de uma equipe multifuncional e o município não tenha, a gente orienta os pais para que procurem escolas especializadas nos municípios vizinhos. Mas, hoje, em Dois Córregos, nós possuímos profissionais excelentes que podem desenvolver um bom trabalho em todas as áreas.
O Democrático: Por que os pais procuram um psicopedagogo?
Simone Segantin: A gente fala para os pais confiarem nos profissionais da sala de aula, pois eles são os primeiros a saberem que a criança não está no nível desejado para aquela idade, não está se desenvolvendo de acordo com o esperado pelo professor. Quando há queixa de desatenção, desfoque, de escrita, com trocas na escrita, na fala, o psicopedagogo, junto com outros profissionais, elaboram laudos. A partir dessas respostas, os pais são orientados a procurar o melhor profissional, seja um neuropediatra, uma fonoaudióloga, um psicólogo, uma arteterapia, musicoterapia, dança, judô. Quando os pais procuram pelo psicopedagogo eles têm essa ansiedade de saber o porquê de o filho não estar acompanhando igual aos outros coleguinhas da sala.
O Democrático: Como é o atendimento escolar após o diagnóstico?
Simone Segantin: Assim que o laudo é fechado pelo neuropediatra, já há a orientação sobre as necessidades que a criança têm e que precisarão ser trabalhadas na escola. O aluno vai para a sala regular, em horário normal. O correto é o professor ser orientado por um outro professor especialista naquela necessidade que a criança possui. No contraturno, o aluno frequenta uma sala de recursos ou uma sala multifuncional. Essas atividades são coordenadas por um professor especialista. Desde 2011, a rede municipal tem que ter uma sala de recursos montada com esses profissionais especialistas em cada área. Em casos de necessidades especiais auditiva ou visual, o professor intérprete acompanha a criança desde a sala de aula.
O Democrático: Há profissionais suficientes nessa área?
Simone Segantin: Na rede municipal há muitos professores atuantes, mas ainda falta bastante. No papel tudo fica muito bonito, mas na ação do dia a dia é diferente. Você tem uma rede com 4.500 alunos e apenas um ou dois professores especialistas de cada área. Eles até dão conta, mas o ideal era que a equipe fosse maior. As escolas particulares também estão investindo bastante nisso.
O Democrático: Como a sociedade deve agir perante essas pessoas?
Simone Segantin: Eles são cidadãos como nós e possuem alguns direitos. A última conquista foi uma lei de 2018, que os portadores de necessidades especiais retomaram o direito ao voto. Eles podem ir às urnas para votar. Hoje há cabines para portadores de surdez ou cegueira. O Tribunal Regional Eleitoral teve essa preocupação, é um direito conquistado. Além disso, o principal é não olhar para esses nossos irmãos com olhar de pena. A maioria deles tem mais a nos ensinar do que a gente a ensinar a eles, são pessoas com grandes capacidades.

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