EUA e Brasil

Brasil x EUA: a década perdida da produtividade

Comparar Brasil e Estados Unidos nos últimos dez anos revela uma assimetria estrutural que explica por que seguimos crescendo pouco, investindo mal e empobrecendo lentamente. Enquanto os EUA mantiveram produtividade elevada — cerca de três a quatro vezes maior que a brasileira — e um mercado de trabalho sólido, o Brasil viveu a combinação tóxica de baixa produtividade, informalidade crônica e crescimento médio inferior a 1% ao ano. Em termos simples: trabalhamos muito, produzimos pouco e pagamos caro por essa ineficiência.

O mercado de trabalho escancara esse atraso. Os Estados Unidos operaram a maior parte da década com pleno emprego — desemprego entre 3,5% e 4,5% — e forte criação de vagas formais. O Brasil, ao contrário, passou metade do período com desemprego de dois dígitos e informalidade superior a 35%. A recente melhora do Caged é positiva, mas não altera o quadro estrutural: o país segue preso a um regime de baixa qualificação, baixa produtividade e alta rotatividade, um tripé que trava o crescimento potencial.

No PIB real, a divergência se cristaliza: os EUA cresceram, em média, o dobro do Brasil ao longo da década, mesmo enfrentando a mesma pandemia. Lá, o investimento em tecnologia, educação e inovação empurrou a economia para cima. Aqui, a combinação de incerteza fiscal, baixa eficiência pública, infraestrutura atrasada e dificuldade regulatória travou ciclos de expansão. Não é acaso que, em 2024, os EUA aceleraram com base em IA e reindustrialização, enquanto o Brasil ainda discute qual reforma fazer primeiro.

No endividamento público, o retrato é ainda mais incômodo. Os EUA têm dívida maior em proporção ao PIB, mas pagam juros menores e emitem a moeda que o mundo aceita. O Brasil tem dívida menor, porém caríssima, com juros reais entre os mais altos do planeta. Resultado: gastamos mais com rolagem da dívida do que com educação e infraestrutura somadas. Um país que deixa 90% do orçamento engessado para sustentar o passado não consegue financiar o futuro.

O balanço de década é simples: o Brasil não perdeu para os EUA — perdeu para si mesmo. A distância não aumentou por culpa deles; aumentou pela nossa incapacidade de destravar produtividade, reduzir o custo do Estado e simplificar a vida de quem produz. A oportunidade ainda existe: emprego formal crescendo, inflação sob controle e potencial agrícola, energético e mineral sem paralelo. Mas, sem produtividade e reformas, continuaremos a ser um país de potencial infinito — e resultados medíocres.

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