Frio intenso deve aumentar peso dos alimentos

Economistas ouvidos pelo G1 afirmam que geadas devem causar impacto apenas pontual, então a crise hídrica e preços do petróleo – com seus desdobramentos também no setor de serviços – serão os grandes motores de aumento de preços em 2021.

Além de fazer os brasileiros tirarem os casacos do armário, a onda de frio que atinge o país também vai obrigar a população a colocar as mãos nos bolsos – só que não para esquentar.

As baixas temperaturas afetam as lavouras e devem gerar mais um choque inflacionário no preço dos alimentos. Mas os efeitos dos dias de frio intenso, que devem durar até domingo (1°), ainda podem provocar impactos em cadeia sobre os preços em geral.

A maior preocupação em relação aos preços, no entanto, segue relacionada ao clima, mas não à baixa temperatura: a seca, que prejudica a produção de energia – e encarece as contas de luz dos brasileiros.

Perdas na lavoura e comida mais cara
Como mostrou reportagem do G1 nesta quarta-feira (28), mais esse desajuste climático renovou o desafio de agricultores no Sul, no Sudeste e até no Centro-Oeste na redução de prejuízos.

Geadas que aconteceram em semanas anteriores resultaram em perdas milionárias com lavouras inteiras “queimadas” pelo gelo, folhas congeladas e até o comprometimento de plantas jovens. Como toda redução de oferta, haverá um novo impacto nos preços dos alimentos nos próximos meses.

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O setor foi o grande vilão da inflação de 2020. O conjunto de alimentos e bebidas teve alta acumulada de 14,09% no ano, impulsionado pelo aumento do consumo durante a fase inicial da pandemia do coronavírus.

Os alimentos responderam sozinhos por quase metade da inflação do ano, com um impacto de 2,73 pontos percentuais sobre o índice geral de 4,52% em 12 meses. Desde a virada do ano, contudo, a inflação dos alimentos perdeu parte da força que havia demonstrado. Pelo resultado do IPCA de junho, o setor acumula alta de 12,59%.

Apesar de permanecer bastante alto, o preço dos alimentos passou a ser ofuscado pelos combustíveis e energia elétrica. O grupo combustíveis e energia acumulou, em junho, 16,15% em 12 meses. Os dois itens serão os protagonistas do índice em 2021, segundo os economistas ouvidos pelo G1.

Onda de frio causa prejuízos no campo
Onda de frio causa prejuízos no campo

Impacto em cadeia
Para André Braz, economista e coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV), há vários produtos que devem se prejudicar na situação de frio intenso, mas, em geral, as geadas acabam apenas amplificando os efeitos que a crise hídrica já causava na cesta de alimentos.

Café, cana-de-açúcar, soja e trigo serão monitorados de perto pelo Ibre, diz ele. Os derivados destes produtos podem impactar as mais diversas cadeias de forma secundária. O trigo deságua na farinha, massas e biscoitos. Soja, em ração animal e, consequentemente, no preço das carnes. E a cana, no etanol.

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A seca e falta de chuvas, contudo, são ainda mais preocupantes sob a ótica da produção energética. A energia elétrica residencial sozinha já acumula 14,20% no período, sendo 5,37% só no último mês.

A crise hídrica forçou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a elevar a tarifa de energia ao nível máximo de cobrança ao consumidor pelo sistema de bandeiras tarifárias e ainda reajustar o teto de preço da bandeira vermelha patamar 2 em mais de 50%.

“E a Aneel estuda um novo aumento, para R$ 11,50 e isso pode causar uma variação média na conta de energia de mais 4,3%”, diz Braz, do Ibre.
“A energia mais cara também encarece a produção industrial, principalmente de setores que são muito intensivos em energia, como a indústria de materiais de construção civil – pisos, metais etc. – e para o setor automobilístico, que já está pressionado por aumento de custos”, explica.

O economista lembra que mesmo em cenário de reversão das bandeiras tarifárias adiante, os setores industriais afetados não devem rever para baixo os preços para compensar margens menores durante o período mais agudo de crise.

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Outro prejudicado, o setor de serviços também não teria condição de achatar o lucro. São empresas e pequenos negócios que tiveram uma enorme redução de atividade desde a chegada da pandemia e que esperam a vacinação para retomar as vendas e desfazer dívidas. Um eventual aumento nos preços dos serviços é considerável, pois representa 30% da inflação ao consumidor, segundo o Ibre/FGV.

E o prognóstico para a retomada é positivo. O Índice de Confiança de Serviços, do Ibre, subiu 4,2 pontos em julho, para 98,0 pontos, maior nível desde março de 2014 (98,3 pontos) e superando o nível pré-pandemia.

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Combustíveis
No grupo dos transportes, os combustíveis subiram 0,87% em junho e acumulam alta de 43,92% nos últimos 12 meses. A gasolina subiu 42,21% no período, enquanto o etanol teve alta de 59,61%. São impactos diretos no bolso dos domicílios que dependem do deslocamento.

Por fim, o Brasil é altamente dependente do transporte rodoviário na cadeia produtiva, o que aumenta o valor do frete e também empurra preços de produtos como efeito secundário. O diesel, que abastece os caminhões, teve alta de 40,74% em 12 meses.

“Por mais que tenhamos um novo reajuste de preços pela Petrobras, entendo que o pior já aconteceu. O câmbio apreciando um pouco reduz a chance de um impacto como o do ano passado nos combustíveis”, diz o economista Fábio Romão, especialista em inflação da LCA Consultores.

Fonte: g1

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