Encerrada a batalha das eleições, a hora, agora, é de juntar forças para que o Brasil retome seu futuro. Esse trabalho de reconstrução não depende apenas de uma pessoa, no caso, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, mas de todas as forças políticas, independentemente das trincheiras em que estavam até o resultado das urnas eletrônicas.
Os próximos anos prometem dificuldades. Após o fim de uma campanha eleitoral com pouco espaço para discutir o Brasil e seus problemas, é hora de olhar para 2023 com a devida atenção. É provável que nunca um governo tenha tido de começar a gestão com tantos desafios e em meio a tantas dificuldades. Mas, com as ideias e a execução corretas, são desafios transponíveis. Será fundamental para o sucesso do governo tomar as atitudes certas logo na largada.
O mundo, ao que tudo indica, não soprará ventos favoráveis, com as maiores economias do mundo enfrentando uma recessão e lutando contra a inflação alta, além das insatisfações populares e o prolongamento da guerra entre Ucrânia e Rússia ampliando incertezas. O Brasil o enfrentará com uma taxa de juros elevada para diminuir a inflação, baixa perspectiva de crescimento, contas públicas em desordem e sob risco de desconfiança do mercado. Portanto, é crucial que, desde já, os responsáveis por definirem os rumos do Brasil, tenham a grandeza que se espera deles para superar a decepção do processo eleitoral e, no caso dos vencedores, para não se deixarem contaminar pela arrogância.
O Brasil que Lula assume agora é muito diferente de 2002. Em primeiro lugar, o Brasil precisa resgatar a confiança perdida. Terá de deixar clara a retomada do compromisso com a responsabilidade fiscal e controle da dívida. O desafio fica maior porque terá de fazer isso dando garantia aos gastos sociais, compromisso assumido na campanha. Neste momento não é possível voltar atrás num Auxílio de R$ 600. O governo terá de ter coragem para propor reformas estruturantes. Não há mais como postergar. Não há mais espaço no orçamento para desperdícios. Com o Orçamento sobrecarregado e cheio de buracos, a iniciativa privada ficará responsável por levar adiante obras de infraestrutura e o movimento de reindustrialização que resultará em empregos de melhor qualidade e mais bem remunerados.
O Brasil é maior do que todos, e tem muito a oferecer não apenas a seu povo, mas a todo o planeta. Não por acaso, governantes dos principais países trataram de parabenizar Lula pela vitória, tão logo confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os chefes de Estado ressaltaram a importância de restabelecer o diálogo frequente do Brasil com o grupo de nações determinantes à economia global, todos pregando o trabalho conjunto a ser desenvolvido.
Por fim, não será possível fazer nada sem retomar a transparência total do orçamento.
Um orçamento secreto não é admissível neste momento histórico. O poder de alocar recursos deve vir acompanhado da transparência para quem o sustenta – a população –, da responsabilidade de quem direciona este gasto e da avaliação de sua utilidade. Que a razão prevaleça e cada um dos líderes nacionais desempenhe o seu papel a contento neste período de transição até o início do novo governo. Paulo Afonso, economista e prof. universitário