
O Banco Master emerge como a mais recente caixa-preta das relações opacas entre o sistema financeiro e os círculos de poder em Brasília. O que se conhece até agora são fragmentos — cacos de notícia — que, quando reunidos, sugerem um enredo preocupante.
Circulou a informação de que o Banco de Brasília estaria disposto a absorver passivos decorrentes de operações irregulares do Banco Master, numa tentativa de “matar no peito” prejuízos causados por fraudes. Caso se confirmasse, os principais beneficiários seriam adquirentes de certificados supostamente falsos, transferindo o custo ao setor público.
A operação foi interrompida pelo Banco Central do Brasil, que identificou características incompatíveis com a legalidade e com a boa prática regulatória, evitando o que poderia configurar encobrimento de fraudes. Até aqui, o BC cumpriu sua função institucional.
O que causa estranheza é a multiplicação de intervenções externas ao processo técnico. Há indícios de que o ministro Alexandre de Moraes teria atuado, em mais de uma ocasião, para evitar a liquidação do banco — embora não fosse o relator natural do caso. Diante disso, é legítimo questionar as motivações dessa atuação, sobretudo diante da informação de que sua esposa atua em escritório de advocacia contratado pela instituição, o que, em tese, pode configurar advocacia administrativa, caso comprovada a influência funcional.
Também chama atenção o papel do ministro Dias Toffoli, que teria avocado o processo e imposto sigilo absoluto, retirando da sociedade e da imprensa o acesso a informações de inequívoco interesse público. O sigilo, nesse contexto, deixa de ser instrumento de proteção institucional e passa a alimentar suspeitas.
No mesmo sentido, um ministro do Tribunal de Contas da União precisaria esclarecer por que intercedeu junto ao Banco Central solicitando explicações sobre a liquidação — gesto incomum quando se trata de um processo técnico e regulatório em curso.
Como reação, há parlamentares que defendem o fim da autonomia do Banco Central, não por falha, mas exatamente por ter atuado corretamente. Trata-se de um sinal perigoso: quando o fiscalizado tenta punir o fiscal, algo está profundamente errado.
A pergunta que permanece é simples e incômoda: quem terá condições — e independência — para desfazer esse novelo por completo? Enquanto o sigilo prevalecer e as pressões políticas se sobrepuserem à técnica, o caso Banco Master seguirá como símbolo de um sistema que resiste à transparência.

