
A política é como uma nuvem: instável, movediça, sujeita a ventos imprevisíveis. Mas hoje, ela é clara. Donald Trump prejudicou profundamente a centro direita brasileira — não por acidente, mas por cálculo. Ao exigir anistia a Jair Bolsonaro, seu aliado ideológico, usando como moeda de pressão o tarifaço contra o Brasil, Trump jogou a direita nacional em uma armadilha geopolítica e moral. O resultado foi devastador. A tentativa de interferência externa acendeu alertas no centro político e uniu adversários de Lula. Em vez de ajudar Bolsonaro, Trump o associou ainda mais à imagem de instabilidade e submissão a interesses estrangeiros. A ala moderada da direita se viu constrangida, e a ideia de uma frente conservadora para 2026 sofreu um abalo grave. Lula, que vinha em queda de popularidade, ganhou fôlego. Sua candidatura, até então fragilizada, foi oxigenada. Num movimento quase involuntário, Trump ofereceu ao presidente brasileiro uma narrativa pronta: a defesa da soberania nacional. E no Brasil, esse tipo de discurso tem poder. Quando patriotismo e orgulho nacional são colocados à prova, antigas rivalidades se diluem. O marketing político é cruel. Uma escorregada — ainda que nos Estados Unidos — pode reconfigurar o tabuleiro inteiro. A pressão por anistia a Bolsonaro falhou. Ele não será candidato em 2026. E, culpado ou não, o destino mais provável hoje é a prisão. Com isso, a direita entra em crise de identidade. O tempo para reorganizar um novo projeto até 2026 é curto. O risco de dispersão é real. Lula, por sua vez, está em posição favorável. Mas carrega a responsabilidade de pacificar o país. A anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro poderia ser um gesto de grandeza nacional. Também seria prudente moderar a aproximação com a China. A ampliar o diálogo com a União Europeia. Manter distância de apoio dos terrorista palestinos. Se nada mudar, Lula vencerá em 2026. E seu vice, escolhido com critério, será o próximo presidente. Lula poderá se retirar com Janja, missão cumprida.