Por Edmeu Carmesini
A incompetência é produto da vaidade humana e geralmente ostenta o reforço da desonestidade. Há muitos profissionais que arrotam perfeição em seus misteres e, no entanto, praticam erros grosseiros, estragam o material que seu incauto contratante adquiriu, ficam furiosos ao reclamo deste, tudo isso porque não admitem que não estão preparados para a arte que dizem falsamente dominar. Marcante exemplo da História é a vaidade de Hitler que, perante generais estupefatos, tramava a estratégia da guerra sem dela conhecer um mínimo e, em virtude dessa notável incompetência, felizmente o fim do embate foi abreviado, poupando a vida de milhões de inocentes. Tirante o caso desse monstruoso ser que infelicitou a humanidade e que levou a incompetência ao seu extremo, sempre topamos com um vaidoso incompetente entre as pessoas comuns, causando males que atingem a um ou a poucos. A má política, essa sim é que produz estragos gerais e que muitas vezes não deixam margem e consertos. É a fonte geral da incompetência. O sujeito, sem a menor qualificação e despido e compostura, candidata-se a cargo executivo com sua invencível lábia e arquitetando composições esdrúxulas. Já é um desonesto, pois sabe que não conhece o mínimo da administração pública. Mas a vaidade o domina. Elege-se, derrotando o outro candidato mais capacitado mas que não é ousado a ponto de enganar, mistificar, prometer o impossível. Empossado, passa a atrair partidos para formar a “base aliada”, conseguindo a maioria pois, sem ela, não realizará as malfeitorias que está a idealizar. Distribui cargos de primeiro, segundo e undécimo escalão sem se preocupar com a competência dos nomeados e até é bom que sejam jejunos, estúpidos, contanto que obedientes. Se forem inteligentes, dominarão o chefe e isso não convém. Sabe como direcionar licitações e aprovar a quem bem entender nos concursos públicos, contemplando o nepotismo. Escolhe os submissos, mesmo incompetentes, os quais, com o tempo, aprenderão os segredos do ofício. Ou melhor, os segredos do roubo, aproveitando-se do cargo.
Não há como impedir os males da incompetência. Alguns incompetentes são tão incompetentes que não sabem, por curta inteligência que o são e se metem a realizar coisas que nunca sairão a contento. Outros, mais perigosos e inteligentes sabem que são incompetentes mas convencem a vítima (na política é o povo que enganaram com promessas falazes) de que realizarão os seus anseios (da vítima, é claro, pois os seus anseios próprios estão garantidos pelas facilidades do cargo). A incompetência é para administrar pois, para alcançar seu sinistro objetivo são bem competentes.
Seria preciso que os efeitos danosos da incompetência, dolosos ou culposos, fossem reparados devidamente em face da má entrega do bem ou serviço provindos do pedreiro, do alfaiate, do médico, do advogado, do juiz, a prejudicar quem neles confiou. Contudo, esses são interesses individuais. O pior é o ato do político que prejudica uma comunidade inteira e mesmo que o seu peculato deixe rastro, o seu “roubo” ficará sem reparo. E se o pobre cidadão fizer denúncia aos órgãos públicos, corre o risco de ser preso pois, neste país, adotou-se a cultura de que quem sofre a pena é o que denuncia, não o que rouba e prejudica.